António Lobo Antunes, Segundo Livro de Crónicas
domingo, 1 de fevereiro de 2009
"Eu, há séculos"
"Sentava-me no chão ouvindo a terra, os grilos que cantavam o silêncio cerzindo pedras e sombras, cerzindo as nuvens contra o telhado da casa e a voz da minha avó num dos quartos de cima, de modo que mal os grilos se calavam tudo estava certo, as coisas em harmonia umas com as outras, a minha respiração com elas e então fechei os olhos e por um momento sem tempo fui feliz."
"Quem me assassinou para que eu seja tão doce?"
"O dedo imenso e estúpido do professor primário a procurar-me entre as carteiras a pretexto dos afluentes da margem esquerda do Tejo ..."
" A minha tia ensinava-me solfejo, regulava o metrónomo e aquele dedo, imenso e estúpido também, para a direita e para a esquerda numa teimosia cardíaca."
António Lobo Antunes, Segundo Livro de Crónicas
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