sábado, 13 de outubro de 2007

Uma das origens/explicações para o nome deste Blog



Gravuras pré-históricas encontradas algures ...


Ideia luminosa

Beijo

Beijo
do latim basium
toque dos lábios
transmissor de afeição
utilizado por qualquer um
da gente comum aos sábios
Expressão eloquente do amor e da paixão.

JRocha


Beijo

Beijo

Beijo

Beijo

Beijo

Chove


Chove
das núvens pardas
do céu cinzento
caem bátegas gradas
no chão lamacento
chove
e o forte vento
em perpétuo movimento
transporta o frio
arrefece minha alma viúva
chove
alma de negro trajada
morte momentânea de sentimentos
cansada pela primavera adiada
fonte de tantos sofrimentos
chove
a chuva precipita-se incansavelmente
há enxurradas, cataclismo
minha alma inquieta-se de repente
acordo da letargia e cismo.

JRocha

Metáfora

Soure 2007

Corre a Ribeira em fúria incontrolada
até alcançar, em doce acalmia,
o Rio pachorrente e de vista cansada
de tanto desejar cheirar a maresia.
Dá-se o feliz encontro-casamento,
misturam-se os fluídos em perfeita harmonia,
a Ribeira, frenética de movimento,
o Rio, experimentado, em plena bonomia.
Após a consumação do enlace amoroso,
exaustos, descansam no leito conjugal
e num deslizar, propositadamente vagoroso
receiam, agora, a agonia nas águas do sal.
Esperguiçam-se, então, em lezírias verdejantes
reproduzem-se em valinhas e esteirinhos
completam, por fim, o seu ciclo de viajantes
sepultando-se no profundo Mar dos peixinhos.

JRocha

Acto de criação infinita

Sem comentários
para além do reconhecido agradecimento
aos arquitectos do projecto inicial,
simultaneamente, autores da obra original
e de um outro não menos reconhecido agradecimento
a todos os operários, maioritariamente anónimos, que têm contribuído
para a construção desta peça que se auto-intitula "Capela imperfeita".

Sentimentos

Sinto o peso do tempo
como o peso dum imerecido castigo
Sinto o peso do tempo
por falta de tempo de estar contigo
Esta forma de sentir o peso do tempo
fruto de tanto e tanto contratempo
tempera esta horrível sensação
com o sabor de uma pesada punição
Sinto o peso do tempo
neste tempo fugaz e veloz
porque há cada vez menos tempo
para o tempo de estarmos a sós
com todo o tempo só para nós.

JRocha
Peneda Gerês 2007

Nostalgia

Choro por dentro
um choro que mal consigo ouvir
mas que sinto
e experimento
no silêncio da solidão forçada
Solto uma gargalhada
para sentir o choro partir
o rir porém
não vale de nada
Procuro alguém
mas por entre a escuridão
encontro ninguém
Estendo a mão
gesto instintivo de aproximação
encontro o vazio
Tremo num arrepio
que me percorre o corpo
sinto frio
estarei eu morto.

JRocha
Peneda Gerês 2007

Auto-retrato (cont.)

Sou o tempo parado
pasmado
em plena acalmia
Sou a vertigem
da fuligem
na candeia que alumia
Não sou noite nem dia
sou o crepúsculo
expresso num raio minúsculo
Na viagem
a avaria
no estacionamento
a magia
No sol nocturno
taciturno
o cantar da cotovia
e a luz ténue da lua
fundem-se
confundem-se
neste poeta-utopia

JRocha
Peneda Gerês 2007

Auto-retrato


Dá-me de ti não o que te peço
mas antes, tudo o que mereço
não me julgues antes de me conheceres
esquece os teres e os haveres
procura mergulhar bem no meu fundo
concluirás que não troco este pelo outro mundo
gosto de viver a vida bem vivida
aprecio a beleza até num grão de areia contida
gosto de conviver até mais não poder ser
cultivar a verdadeira amizade
destesto ter que fazer caridade
aprecio as boas leituras
adoro fazer trevessuras
chamo as coisas pelos nomes tal e qual
não me coíbo de falar mal
e mais não devo acrescentar
basta de, de mim, falar
não te ponhas a adivinhar
conhece-me
para me poderes amar.

JRocha