sábado, 27 de outubro de 2007

Burkas - Primavera/Verão

Cara de - -

Equilíbrio cósmico

Ensino e Aprendizagem

Não teimes em ensinar-me
aquilo que não quero aprender
perdes teimosamente o teu tempo
e até parece
que nada mais sabes fazer
a não ser
chatear-me a todo o momento
o que, em ti, me aborrece
Eu quero aprender a viver
ou, no mínimo, sobreviver

quero fazer o meu caminho
quero experimentar
e experimentar-me
Quero avançar recuando
e recuando avançar
em relação, nunca sozinho,
para neste vai e vem rectilíneo
de curva e contra-curva
crescer em movimento contínuo
O saber,
somatório integrado dos saberes,
e pessoal e intransmissível,
resultante das apropriações,
(conversão do ter no ser),
tarefa só possível
através do viver
das mais variadas situações
Os teus conhecimentos
as tuas teorias
os teus sentimentos
as tuas arrelias
só a ti dizem respeito
Para mim serão aborrecimentos
se me massacrares todos os dias
com esses teus conceitos
p
ara mim preconceitos
das académicas cognições:
da ética nas relações
da estética da arte
das conquistas de Bonaparte
ou da teoria de Descartes
Das nucleares aquisições
da teoria das organizações
do plano inclinado
ou do judeu linchado
das roldanas
ou dos membros-barbatanas
do princípio dos vasos comunicantes
ou das Ordens Mendicantes
Nem que te ouça atentamente
e em postura corporal correcta
a minha mente,
felizmente,
na lógica organizacional da selecta
ou na do Empty Trash computacional
remete o auditivo material
para o cesto do esquecimento
num ápice, num momento,
a fim de preservar as memórias
para as minhas conquistas
que são, afinal de contas, as minhas vitórias.
De conquista em conquista
de vitória em vitória
(aqui, até no perder se ganha)
me vou construindo
seguindo o meu próprio caminho.

JRocha

Exercício de introspecção

Afinal ... sou ... o que sou.

Projecto

Crenças

Da frescura e fecundidade do vento de mudança
colho o pólen deslizante das palavras
palavras “novas” coloridas pela esperança
de não serem só palavras
E da palavra à palavra-acção
há um trilho novo a percorrer
caminho de reflexão sobre ideias em ebulição
que é preciso deixar ferver e arrefecer
para amadurecer
e assim algo de novo erigir
Mas não há paciência para o preceito cumprir
a intervenção sofre de urgência
é imperioso rapidamente agir
com serenidade e inteligência
temperadas com a esperança no devir
Cimento as palavras sistematizo ideias
desenho em torno de cada ideia
um projecto a construir
e das mil construções esboçadas
assumo que todas se hão-de cumprir
Ah! mas que desilusão... que frustração
causadas por um pueril esquecimento
do projecto não resulta construção
se não houver areia tijolo ferro e cimento
e ainda o mais importante
operários e técnicos com vontade
com empenhamento
com disponibilidade
e em comunhão de pensamento
quanto à construção a levar por diante
Tantos castelos de areia construídos
em estado de êxtase ... de miragem
tantos sonhos desiludidos
tantos sonos mal dormidos
tantos passos em vão percorridos
tanta gente fora da carruagem
Quantas palavras bonitas ouvi
quantas promessas escutei
quanto empenhamento li
em muitos que contactei?
Francamente não sei
Mas sei e nisso teimo em acreditar
que “o sonho comanda a vida”
e quero continuar a sonhar
pois nesta vida-corrida
só a utopia nos faz avançar.

JRocha


As palavras

As palavras
Sempre as palavras
Palavras de circunstância
Palavras de ocasião
Palavras com substância
Palavras de lição
Palavras de conveniência
Palavras oportunas
Palavras de reverência
Palavras inoportunas
Palavras de excelência
Palavras pragmáticas.
Palavras …

Palavras e gramática
Palavras e morfologia
Palavras e semiologia
Palavras e frase
Frase e pontuação
Frase e sintaxe
Frase ou oração
Frase e discurso
Discurso e eloquência
Discurso e comunicação
Discurso em uso
Palestra e paciência.

E o palavrão?
Masculino
Expressivo
Incorrecto
Substantivo
Mole ou erecto
É ou não é rico em expressão?

E a exclamação?
Em discurso directo
Ou mesmo indirecto
Verbo reflexivo
Modo imperativo
É ou não é ilustrativa
Forma espontânea e viva
De exprimir uma sensação?

JRocha
“O mundo gira sobre palavras lubrificadas com óleo de paciência.
E há os discursos, que são palavras encostadas umas às outras,
em equilíbrio instável graças a uma precária sintaxe, até ao prego final do Disse ou Tenho dito”.

José Saramago, Deste mundo e do outro

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

domingo, 21 de outubro de 2007

Liberdade

Liberdade - coragem de ser o que se é.

Solta os teus sentidos
dá-lhes plena liberdade
escuta o olhar comunicativo que te chama
vê a palpitação quente
que te invade
cheira o sabor gostoso
de quem te ama
tacteia o calor fervoroso
dos corpos despidos
dá sentido à existência dos sentidos.

JRocha

Hino ao Amor

Vamos viver a vida
paremos e façamos amor
nesta mata florida
junto à toca do grilo cantor
Cada um dá tudo o que tem
até mais não poder ser
em contacto com a terra-mãe
que a tudo dá o ser
Rebolemo-nos na folhagem
no lençol de musgo humedecido
façamos uma viagem
ao paraíso prometido
Que os corpos no final
sujos, suados, partidos
pela união carnal
com amor, se mantenham unidos.

JRocha

Outono indolente

Outono letárgico e lânguido

Outono folhoso

Outono de brisas suaves e frescas

Outono luminoso

Outono com fortes contornos de Verão

A força da Natureza no Outono

Maçã da Eva

Fruta de todas as épocas

Desassossego

Em hora de sisuda e intelectual lucubração
quantas vezes se torna inane o pensamento?
quantas outras o desejo lascivo turva o discernimento?
e, os sentidos, então, retiram sentido à razão.
Navega-se então na malícia por rios sonhados de impudicícia
sentindo-se activadas dentro do corpo
as lavas lascivas dum activo vulcão
nunca inerte, nunca morto,
antes ardendo em fogo-paixão.
Torna-se o corpo irrequieto, impaciente,
arde-se em temperatura quase febril
com respiração ofegante de doente
desejo ardente, querer pueril.

JRocha

Estar vivo

Morre lentamente quem não viaja,
quem não lê, quem não ouve música,
quem destrói o seu amor próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
quem não muda as marcas no supermercado,
não arrisca vestir uma cor nova,
não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is"
a um turbilhão de emoções indomáveis,
justamente as que resgatam brilho nos olhos,
sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto atrás do sonho,
quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte
ou da chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece
e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que
estar vivo exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!
Pablo Neruda

sábado, 20 de outubro de 2007

Metáfora

O corpo carrega sempre duas caixas:
uma caixa de ferramentas e uma caixa de brinquedos.
Essas duas caixas definem os objectivos da Educação.

Caixa das ferramentas: nela se encontram os objectos necessários para compreender e inventar. Úteis, indispensáveis à sobrevivência. Nela se encontram guardadas desde coisas muito concretas, como fogo, redes, facas, machados, hortas, bicicletas, computadores, até coisas abstractas, como palavras, operações matemáticas, teorias científicas.

Caixa de brinquedos: nela se encontram objectos inúteis, que sedo inúteis, são usados pelo prazer e pela alegria que produzem: música, literatura, pintura, dança, brinquedos, jardins, instrumentos musicais, poemas, livros, culinária ...

Com a caixa das ferramentas e a caixa de brinquedos, os seres humanos não só sobrevivem como sobrevivem com alegria. A caixa de ferramentas, sozinha, produz poder sem alegria. Vida forte mas vida boba, sem sentido. Os seres humanos ficam embrutecidos. O conhecimento, sozinho, é embrutecedor. A caixa de brinquedos, sozinha, está cheia de prazeres e alegrias. Mas os prazeres e alegrias, sozinhos, são fracos. E a vida, sem poder, é vida fraca, incapaz de responder aos desafios práticos da sobrevivência. E vem a morte.

Sábio é aquele que tem as duas caixas ... O homem sábio planta nas hortas coisas boas para comer e viver e planta nos jardins coisas boas de se ver, cheirar, degustar ...

Tarefa do educador: ajudar os discípulos a construir suas caixas de ferramentas e suas caixas de brinquedos ...


Rubem Alves, Estórias maravilhosas de quem gosta de ensinar

O meu Relógio

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Computadores a 3 Dimensões neste Outono

Telemóveis de 4ª Geração